miguelzinhe

`·..·´´¯`··._.· "Todos nós somos quimeras, híbridos teorizados e fabricados de máquina e organismo; em resumo, somos ciborgues." ¯¨’*·~-.,.-~*´¨¯ Donna Haraway `·..·´´¯`··._.· "Todos nós somos quimeras, híbridos teorizados e fabricados de máquina e organismo; em resumo, somos ciborgues." ¯¨’*·~-.,.-~*´¨¯ Donna Haraway

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março/2024

hãn?

será que meu ouvido tá bom? fico pensando se tem até ferrugem em suas paredes, sujeira em suas cartilagens. antigamente eu ia até o farmacéutico da quebrada acompanhar meu pai em suas lavagens de timpano com água oxigenada. quando eu tô de fone eu me pego incomodado com a falta de um cancelamento de ruído maior. incomodo com a maquinaria da cidade grande. tem/tinha um rio aqui perto, o rio Tamanduateí. falo no presente/passado porque ele não foi só poluído como poluiu-se pela sujismundice sonora dos automóveis. quando fui pra belém do pará consegui ouvir o som de um rio de verdade. a movimentação de um banzeiro e o ranger das docas de madeira.

eu gosto muito do silêncio da madrugada, me faz ser mais criativo - ou será que me faz ouvir meus próprios pensamentos? talvez eles sempre estão aqui, é só que tá tão barulhento tudo que eu não consigo prestar atenção em mim.semanalmente me dá vontade de ouvir sons da natureza, pra quem sabe, eu poder sonhar com a vida que meus ancestrais levaram. me sinto preso ao ruído industrial. muito me admira os pássaros das árvores da rua que seguem se comunicando e cantando bonito, apesar do rio já ter morrido há muito tempo.

por ouvir tanto eu já não sei falar sobre o [meu] silêncio. me parece que não falar também comunica. às vezes o timbre tenebroso da cidade é o que sustenta minha an[criati]siedade.

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